Back in Time #07: GOT7 - Just Right e o Brilho Único de um Boygroup que Nunca Foi.

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Inspiração. Ela surge em momentos não apenas inesperados, como inoportunos. São 03:11am. O nome do blog, novamente, se justifica.

Após um papo entre os blogueiros em nosso respectivo chat no twitter, cujo tema central não posso expressar para não revelar os planos futuros de um colega, acabei por escutar alguns singles aleatórios de um passado não tão distante, mas ainda assim nostálgico. E fatidicamente, Just Right, que me fugia há mais de um ano, talvez, chamou atenção e despertou aquele desejo doentio e infernal de colocar em palavras meus pensamentos acerca de si. Incontrolável. Eu gostaria de fazer outras coisas. Mas não consigo. 

Convenientemente, ela irá fazer 2 anos dia 12 de Julho, o que possibilita uma espécie de homenagem/comemoração à data, além de ressuscitar um quadro que deveria ser mensal, mas está ausente desde Fevereiro. Não morto, mas falta ela, a inspiração. Ela retornou - e para um boygroup.

Aos novatos e veteranos esclerosados, vale lembrar a proposta do Back in Time: comentar canções de invernos esquecidos sob a perspectiva igualmente datada, como se fosse um release atual.

Com vocês, Just Right:


É quase inacreditável que o GOT7 já tenha um ano e meio de existência. É uma impressão comum quando não acompanhamos o desenvolvimento de algo, como aquela atriz mirim que você viu nos comerciais em 2010 e depois se deparou com ela novamente em 2015, completamente alterada pelos hormônios. É uma lacuna imediata sem preenchimento. Temos a memória de etapas completamente diferentes sem uma imagem do que ela enfrentou até chegar ao ponto atual. 

Meu descaso com o GOT7 vem de vários fatores; eu não sou o maior fã de boygroups. Não me fecho a eles, caso contrário nem estaria aqui, mas não nutro expectativas nem os sigo como faço com a contra-parte feminina. E o principal, que é a discografia do GOT7 até aqui. JYP é um gênio dos negócios e musicalmente. Seu status não é em vão. Mas seu escopo com girlgroups é melhor, admitimos sem viés de preferência. Wonder Girls e miss A são atos icônicos, diferentes entre si e entupidos de hinos. Do outro espectro, temos 2AM e 2PM, de impacto ligeiramente menor, e o g.o.d, que não pode ter sua relevância ao cenário do pop coreano negada, mas que deve mais a isso o momento em que surgiu do que o que apresentou em si, por mais agressivo que isso soe. 

Vou mais longe: até aqui, ao menos, a volumosa fanbase do GOT7 se deve mais ao renome e influência da empresa, algo natural a todos da Big3, do que as virtudes apresentados pelo grupo. Qual é? Girls Girls Girls é ofensivo. A e Stop stop it - a segunda parece uma demo lançada apenas diante da perda de uma aposta, tamanho desserviço - são claudicantes sonicamente, tendo resquícios de aceitável pelas participações de duas trainees da empresa, Sana e Dahyun, respectivamente.
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Dito tudo isso, eu só dei play em Just Right pelo TOC de olhar tudo lançado que chega a meu conhecimento. No automático. Sem nem ao menos assistir ao MV inicialmente. Um som de fundo desmerecido de atenção enquanto realizaria outras tarefas. Sua sorte mudou exatamente quando as outras tarefas se tornaram secundárias para o que os ouvidos traziam. Just Right não era o GOT7 que conhecia até então. Era digno, agradável. 

E disse isso apenas da música. Mediante o que descrevi, cliquei na janela do MV, retrocedi o cronômetro ao início e, de olhos fixos, apertei o Play. E aí o que era divertido tornara-se significativo, além de uma simples melodia em idioma incompreensível a nós. 

Pode soar como demagogia, um meio artificial e maniqueista de se atrair simpatia e empatia para sua causa: filmar um MV de mensagem universal e atual. Talvez a ideia de JYP seja essa, visto que ele com certeza está antenado nas mudanças do mundo e os temores da juventude. A globalização tecnológica traz isso. Essa possibilidade sórdida é reforçada quando imaginamos a lastimável letra de Girls Girls Girls, de poucos meses atrás.

Mesmo assim, a despeito de sua idealização, a mensagem transmitida e que chega ao público é louvável. Utopias podem ser inatingíveis, mas ao menos merecem a visualização.
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Caso esteja perdido, resumo: Just Right (algo como simplesmente perfeita ou na medida) toca no pesado e imensurável tema da estética e os efeitos disso na autoestima, clamando para a pessoa aceitar-se como é, pois ela é perfeita. Retratável em qualquer cultura, é ainda mais palatável na sociedade com maiores índices de cirurgia plástica no mundo, quanto mais neste rígido meio das celebridades, o culto à beleza padronizada e o corpo esbelto. 

Essa paranoia que é encrustada na mente das pessoas ainda na tenra idade, através de veiculações de mídia e seus produtos de beleza, desvirtuando o verdadeiro senso da infância e transformando prodígios em criaturas infelizes, encucadas e subvertidas, pois a percepção externa de si é, para qualquer um, de extrema relevância. Uma espinha, um cravo, uma cicatriz, a orelha de Dumbo, o Nariz de Pinóquio. Um pequeno detalhe alardeado como se fosse um pecado capital, que toma-nos a inocência e tira a tranquilidade. Grande parte disto uma bela de uma construção social. É uma atitude criminosa e não exclusiva ao capitalismo, o que talvez tenha ficado subtendido em minhas palavras. Países como a Coreia do Norte também preservam sensos ideais de como alguém deve parecer. "Não seja você mesmo. Seja o que nós mostramos". 

E Just Right, através de pequena atriz Lee Ja-In, nascida em 2003, é uma verdadeira ode à beleza particular do ser.

"Espelho, por favor espelho, diga a ela
(...) 
Que ela não precisa mudar nada
Que ela é linda e perfeita como ela é agora
Apenas seja feliz, não se preocupe"
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Em repetição deliberada, não planejo soar demagógico. Just Right não se tornará um hino da ONU. Você ainda vai usar aparelho, acnase na espinha do nariz e chapéu quando o corte de cabelo der errado. A beleza "ideal" está em todo local; banners, TV, revistas. Mesmo que você eduque sua filha com desenhos que estimulem amizade e não façam menções estéticas, a amiguinha saberá. Ela - e ele também, é claro - verá algum cartaz estampado por uma loira editada no photoshop de corpo avião, cabelos sedosos e buscará ser igual. 

Mas alguém deve sempre dizer o contrário. A resignação é o primeiro passo para o condenamento. E o Kpop, não esquecemos, é um produto de fácil deglutição, com grande público de parcelas juvenis ou infantis. Este estilo simplório e grudento demonstrado por Just Right é um perfeito exemplo disso. Por isso mesmo, a utilização de uma criança protagonista é perfeita. 

Tudo que disse acima é um tema sério. Com falta de tato seria um tiro no pé. E é brilhante a simplicidade, até expositismo, com que as ideias da letra são demonstradas no MV, com foco na garota, e sem deixar de ser leve e divertido, com os rapazes em versões minúsculas, em cenários coloridos e pueris, de público alvo nítido, mesmo que gerações mais velhas cheguem aqui apenas para vislumbrar seus oppas lindos. Você ganha mais do que imagina, e nada pode ser melhor do que isso.
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No fim, todos recebemos uma faixa descompromissada, suave e viciante, uma referência eterna para qualquer "uuh uuh uuh" que ouvirmos. E além de tudo, uma pequena aula de otimismo e conforto. E o GOT7, uma chance de recomeço.

Menos Girls Girls Girls, mais Just Rights.

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E é isso, meus queridos. É triste ver como seu rendimento desandou depois disso, sendo Just Right um ápice isolado, por mais que muitos tenham If You Do em grande estima. Para mim, sua carreira começou e terminou com os Uuh Uuh. Mas os braços - e ouvidos - estarão sempre dispostos ao amanhã.
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