Bolbbalgan4: Red Planet - Album Review.


Quando saíram os indicados ao MAMA, na categoria de melhor grupo Rookie feminino, no meio dos já popularmente conhecidos IOI e BlackPink, havia um outro nome, esquisito, desconhecido, de pronúncia incerta - um tal de Bolbbalgan4, longe da sonoridade bem Pop e mainstream com MVs cheios de efeitos e parafernalhas técnicas para embelezar o conteúdo. A dupla de garotas, ao contrário, investia numa simplicidade visual condizente com sua música, mais lírica e adepta de estilos mais singelos e minimalistas, com pequenos elementos clássicos.

Jiyoung - que parece uma mistura entre Halsey e Lee Hi - e Jiyoon, nomes destas gurias que compõem o Bochechas Rosadas, significado por trás do complicado rótulo que as carrega pela indústria, apesar de só terem debutado oficialmente em 2016, pela Shofar Music, participaram já do programa Superstar K6, em 2014, com outros dois rapazes - sim, um co-ed -, mas não chamaram tanta atenção nem atingiram resultados respeitáveis. Nada de romantização, petições online ou revoltas wébicas de injustiça. Quietinhas e sossegadas, só ganharam uma nova chance após, no mesmo ano, gravarem uma trilha do Dorama Misaeng. 

Neste ínterim, elas se mantiveram na ativa através de vários covers e na produção de seu vindouro debut, que veio em Abril, com o EP Red Ickle, e pouco mais de 4 meses depois, dia 29 de Agosto, já tiveram seu primeiro LP lançado, Red Planet, que sem alarde, conquistou público e críticos, dominou charts e, na opinião deste que vos escreve, foi o melhor full coreano do ano passado. 

O álbum, que nos é um verdadeiro presente, soará estranho para kpoppers Ocidentais mais adeptos de grupos numerosos e de grande clamor, pois, se muito criticamos os coreanos e alguns grandes talentos que deixam flopar, nós também pecamos em algumas escolhas de gostos - sem generalizar, é claro -, pois se os Korebas muitas vezes se excedem na hipocrisia com que julgam certos conceitos, nós erramos pelo limitação com que títulos comerciais e de grande apelo. Não que sirva de redenção, mas ao menos, ao sul do Paralelo 38, desenvolveram um gosto considerável por baladas, artistas de R&B e atos indies, e até por isso, o Bolbbalgan tem encontrado um sucesso inimaginável no cenário - mas muito merecido.



Red Planet exala essa aura indie, intercalando características de RnB, ballads, folk e até rock, com instrumentais bem distinguíveis e sem grandes invencionices. Galaxy, o lead single e principal hit delas, abre o LP e já dita o tom íntimo e sentimental de todo o conteúdo. A dinâmica entre Jiyoon, que aqui pega os raps, e Jiyoung, a vocalista principal, entrega uma relação amistosa e que já vem de anos, que se completam sintagmaticamente. A estrutura inicial remete a trilhas de Doramas, mas passa longe de ser uma xaropeira ou algum filler. Emocional, mas ainda assim, lépida, tipicamente hippie, ganha pulso com o break de rap, e nessa organização por toda sua condução, passa numa velocidade impressionante, que já nos prontifica ao replay.

Fight Day/When We Fought possui uma letra triste e angustiante de ruptura e desilusão amorosa, e é curiosa a escolha do arranjo para sua entoação: soa forte e determinada, beneficiado pelos acordes firmes de guitarra, como se passassem o sentimento de superação quanto ao que falam, duas mensagens em uma só. Confuso em teoria, mas plenamente funcional em execução. Reparem que apesar de parecerem um uníssono, as duas meninas cantam aqui, o que denota a versatilidade de Jiyoon, que se garante como rapper e também como vocal de apoio, em um timbre mais suave e infantil que sua parceira.


You=I segue a linha de lyrics amorosas e possui maior mérito pelo refrão orgânico e construído sem alarde com os Uh Uh Uh, monossílabas grudentas. Em consonância ao álbum, é um elo de ligação honesto, mas sem grandes fatores que a façam instigar uma ouvida isoladamente. Grande parte das faixas lembram algo que a IU produziria, pelo arranjo mais complexo ou com pequenas contrações de instrumentos diferentes. Grumpy, a familiarizados, se assemelha mais a alguma b-side aleatória do AKMU, dessas que ninguém coloca como sua favorita de nada, mas também ninguém costuma detestar. Jiyoung assume o papel de Lee Soo-hyun, e sem fazer feio nessa comparação, casa bem seus tons delicados com o violão de acompanhamento.

Hard Love é minha favorita do álbum. É mais uma faixa de decepções amorosas, como sugere o título, e mesmo assim, é incrível que elas consigam evitar repetições ao interligar tantos produtos com uma temática semelhante num mesmo disco. Difere de Fight Day por assumir sua textura diretamente com os sentimentos esperados da situação retratada; e ela traz melancolia e tristeza, sensações maravilhosamente trazidas na voz de Jiyoung, que parece carregar o peso da elegia em suas cordas vocais, que apenas alguns minutos atrás, nos entornavam em sorrisos e felicidade. Uma alternância de tom inesperada e magnífica. Minha favorita.


Chocolate e Freesia trazem de volta o clima mais leve de antes, o que pode ser positivo ou negativo de acordo com sua degustação até aqui, principalmente de Hard Love. Se estiver num estado mais relaxado e harmônico, será o ideal, mas caso esteja a se sentir mais reflexivo ou obscuro, talvez a quebra do contexto prejudique sua experiência como um todo.

X Song é um meio termo entre a alegria e a tristeza. É como um filme que inicia mal, mas que em sua jornada, nos presenteia com lembretes e reminiscências de tempos melhores que nos ajudam a perseverar até a reviravolta. Como um dia chuvoso e pesado que revela o sol antes do escurecer, ela provoca sensações distintas. A entonação é nostálgica e mista, ora erige em otimismo, ora taciturna. No terço final, entretanto, a backtrack se repete num crescendo que deixa um ar mais positivo.

Ring nos prepara para o final e deixa a ambiguidade sônica de lado para erguer o ânimo de forma despretensiosa e jovial, num amálgama de violão e até uma vibe de jazz no solo de piano, que dá um charme especial para o todo. When I Fell In Love é da família de X Song e Fight Day, com um início lúgubre e que parece querer enveredar para caminhos mais soturnos e tétricos, mas que rapidamente muda a expectativa e explode delicadamente no refrão, que mantém-se assim por bons segundos enquanto o teclado ritmado em bateria intensifica sua batida. Seu maior defeito talvez seja a repetição do clímax, o que maleficia o impacto. No entanto, é um canto do cisne fiel e encorajador que dignifica a experiência completa.

Ao final, fica o gosto de satisfação e surpresa, o privilégio de poder ouvir essas moças e a esperança de que a maturidade as fará produzir trabalhos melhores, mais diversificados, ousados e profundos. Contemplar o início de uma carreira tão auspiciosa é um enlevo raro. 

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