REOL: Sigma - Album Review.


Reol talvez seja uma das maiores revelações da Asian Music deste ano (sim, eu sei que ela lançou um álbum ano passado, mas tenho a leve impressão de que todos nós a conhecemos com Give me a break stop now, não?!). Eu até diria a maior não fosse minha política atual de maneirar nos elogios a fim de evitar algumas hipérboles, algo que cometi com primazia nos primeiros meses de Blog.

Pois bem, no último dia 19, REOL (a Unit qual Reol faz parte, com acréscimo de um produtor e diretor que não nomearei aqui pois vocês não dão bola) lançou seu primeiro álbum - Sigma, cuja review encontra-se abaixo.



Assim como tudo nesse mundo, podemos comparar Reol com vários elementos estrangeiros. Sua persona, que até o vídeo aí de cima era ocultada por efeitos bacanas e vocaloides, lembra muito a Sia justamente por essa peculiaridade de evitar exibir sua imagem publicamente. Mas essa similaridade acaba aí.

Como falamos de East Asian Music em todas suas idiossincrasias bizarras que, afinal de contas, formaram um nicho suficiente para Blogs como este existirem, é possível traçar um parâmetro maior com o que já existe na indústria musical leste-asiática.

Por conceito e esquisitice, Reol lembra muito Kyari Pamyu Pamyu, excêntrica e de visual marcante, o que de fato é uma das principais características do Pop nipônico. Sua voz soa como um híbrido hilariante de Shin Jimin (a do AOA), com seus tons de cabra arranhada, e Ayumi Hamasaki. Agora joga um autotune vocalóidico nisso tudo e BOOM! Reol.

Digo isso para ressaltar que ao ouvir um álbum como Sigma, se não for tão familiarizado com o gênero, não ouvirás algo pedante, um vozeirão divino ou instrumentais complexos. Sigma é um farofão EDM com pequenas alternâncias, desses divertidos e que provocam um entretenimento sem exigir reflexões maiores. Para curtir, tem de abraçar a proposta, sem encher o saco sobre autotune, vocovers e etc.

Vocês podem obter o álbum Sigma através desse link, e sem mais delongas, vamos lá!

VIP KID, a faixa de abertura, é uma introdução fiel e competente ao que iremos ouvir em boa parte do álbum completo. Um EDM de balada agressivo com batidas variadas e caleidoscópicas para, literalmente, girar a cabeça e levantar o espírito. É um clima que lembra muito o T-ara pré-2013, com Sexy Love, Number 9 e afins, mas com o diferencial vocal da japonesa, que mescla os elementos citados acima, o que fornece uma identidade imediata ao que ouvimos.

Só que, apesar de dar o tom, VIP KID acaba por ser a faixa mais fraca do projeto. Give me a break stop now, single divulgatório de tudo, vem logo a seguir, e é quando as coisas começam a animar. Falei mais sobre a música aqui, então me atenho a dizer o quão incrível ela é. Do refrão explosivo aos breaks dançantes, cria uma atmosfera frenética perfeita para amantes do gênero. Se vista com o MV, ainda melhora a sensação esquizofrênica e insana que sua melodia gera.

YoiYoi Kokon (Noites no Passado e Presente) é outra que já havia sido lançada, mas é tão boa que a sensação é de que estamos vendo algo novo e com grande potencial viciante. Muitos reclamaram de que Give me a blábláblá lembrava demais K-pop, quando o desejado de quem vai atrás de J-pop é... J-pop. Bem, aqui está. A mistura de elementos tradicionais japoneses com pitadas até mexicanas com eletrônica pisa no Made in Japan de Ayu, e o acréscimo de velocidade no refrão é uma labareda estimulante da faixa. A melodia original é tão boa que preferiria a ausência dos breaks, mas nada que me impeça de continuar prejudicando minha audição com isso aqui em volume lacrado no fone.


Para nós que não entendemos japonês (se alguém é fluente, fica a inveja ruim) Loading pode passar despercebido como título, só que ele serve justamente para ilustrar a temática de seu conteúo. A backing track evocativa de games clássicos em 8-bits torna a experiência divertida e quase infantil, mas sem deixar de ser agitada, principalmente no refrão aceleradinho em tons baixos, em contraponto à aceleração mais agressiva em YoiYoi. Caso estejam curiosos, podem ler a letra, que também brinca com o tema, aqui.

Com todos os jotapopeiros fisgados pela incrível qualidade genuína demonstrada nas últimas faixas, Re; volta a lembrar o lado coreano do Pop, mais especificamente, o início de carreira do 2NE1, com o autotune exagerado e descarado que tanto sentimos saudade, acompanhado da trilha eletrônica. A lentidão abrupta pode estranhar inicialmente, mas é bacana pra evitar um ataque cardíaco de excitação. Também serve para uma mudança de tom geral para o que virá a seguir. 

E então chegamos na sexta parte do álbum, Lunatic, minha favorita do treco, talvez pelo tanto que lembra Ayu, a quem tanto amo, apesar dos recentes tombos. Ela mantém o clima ameno de Re, mas muito mais inspirada na execução. A backing track é simples, quase um Lounge, e os sintetizadores, a alma do álbum, parecem saídos de um filme Indie de Ficção científica. Em descrição sinestésica, diria que Lunatic me lembra uma viagem transcendental ao interior da mente ou a trilha sonora que ouviríamos ao atingir o Nirvana. Uma das melhores coisas que ouvi esse ano. Recomendo muito lerem a letra.

Como faz para parar de ouvir Lunatic e seguir em frente, mel dels?!

Kamisama ni Natta Hi (O dia que me tornei Deus) é mais uma viagem calmante muito bem-vinda. O início parecem bem um Tropical House desses que nos acostumamos no capope 2016, mas essas características se perdem no decorrer da faixa. Há algo que parece faltar nela. Os versos e refrão não empolgam nem engatilham outras sensações. Não é uma música ruim, mas acaba sabotada justamente pelo quão bom foram suas antecessoras.



ChiruChiru, outra pré-lançada e que retoma a boa forma. Os sintetizadores seguem uma linha singela e bem funcional e grudenta pra nossa cabeça, mas o destaque vai mesmo pro início do refrão, que parece saído de um ending de Gundam Wing. Ao contrário de YoiYoi, o break forma uma dinâmica boa com o retorno dos versos. Gostei bastante do finalzinho, com a voz mais suave em contraste ao tom exibido no resto da canção.

E já que não tivemos uma intro propriamente dita, ao menos recebemos Final Sigma, interlúdio que prepara para as últimas quatro experiências que teremos no álbum. Fica levemente dissonante aqui por voltar ao pancadão do início do LP, o que não fecha sentido com as últimas músicas, que foram mais calmas. Por conter partes de Give me a break stop now, ficaria melhor encaixada introdutoriamente.

Sem perder tempo, DetaramE KiddinG (algo como Brincadeira sem sentido) é outra track de vídeo game em Sigma. Porém, mais agitada, remetente a aventura, ação. Os versos rápidos e atropelados voltam, como sugerido por Final Sigma. Outra que lembra muito Ayu pela vibe rockish do refrão. É basicamente uma faixa de Pop Rock, o que denota o camaleonismo de Reol.

Summer Horror Party e 404 Not Found surpreendem e seguem por um caminho diferente do resto do álbum. A primeira, a despeito do Horror do título, lembra mais o Summer mesmo, com um clima alegre e ensolarado, pouco imaginável de gótica que gravou Give me a break stop now. Já 404 Not Found é o mais perto que chegamos de ter uma baladinha em Sigma, mas com tons levemente acima. A letra parece bem pessoal, sobre pesares e enfermos íntimos da artista, e se encaixa bem com uma melodia mais arrojada e suave, mas sem jamais ser monótona e chata, com os "Everybody Don't Know Why" sendo um bom ponto de referência para grudar no cérebro, enquanto apenas cantamos o resto sem saber como. Mérito também pela duração ser ideal, nem muito curta, o que deixaria a desejar, nem longa demais a ponto de enfastiar. Serve como terapia para Reol, e como entretenimento para os ouvintes.

E para encerrar o intenso caminho percorrido, Viora. Ficaria melhor se trocada de posição com 404, que tem todo o estilo de despedida. Viora não chega a ser algo que ouviríamos em uma discoteca, mas passa longe de ser algo leve. O som de harpa ao fundo fornece uma certa elegância ao Dance, saindo do lugar comum e impedindo que se torne genérico. O benefício de encerrar com algo mais próximo ao upbeat é que você sai querendo mais.
reol REOL give me a break stop now gif

E então, vale a pena?

Um bocado. Um dos melhores full albuns do ano até aqui. Obviamente não temos como comparar com um Fântome da vida, mas por ser o primeiro LP do REOL, é realmente um sucesso notório e diversificado. Estreou em sexto na Oricon, o que é um bom indício de uma carreira talvez afastada do topo, mas sólida. Reol definitivamente entrou no radar deste que vos escreve.

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