Crítica - Unforgettable (2016), O 2º Filme de D.O.

Unforgettable/ 순정, dirigido por Lee Eun-Hee.
Para um espectador desavisado, encarar uma obra romântica do leste-asiático tende a ser uma experiência inusitada. Diferente do que vemos no Ocidente, a retratação do amor, principalmente em filmes sul-coreanos e japoneses, tende a ser mais íntima, tímida, sensível e delicada, em extrema dissonância de relações expositivas e velozes que vemos por aqui. É, em simples termos, algo mais puro. Não à toa, 'Unforgettable' se chama, em tradução literal do hangul, 'Pure Love'.

A história tem início nos dias atuais, quando o radialista Hyung-Joon (Park Yong-Woo), durante uma cotidiana transmissão de seu programa, recebe um pedido da música 'Dust in the Wind', clássico do Kansas, advindo de uma conhecida de infância qual não comunicava-se há anos. Então, esse contato com o passado o leva a revisitar dias até então esquecidos, em uma época de inocência, amizades e amores.

O flashback nos leva a uma localidade rural no ano de 1991, durante as férias escolares de verão, onde conhecemos um fiel e apaixonado grupo de amigos: Bum-Sil - o radialista - (D.O.), Soo-Ok (Kim Sohyun), Gae Duk (David Lee), San-Dol (Yeon Jun-Suk) e Gil-ja (Joo Da-Young), todos conhecidos por apelidos, tradição do vilarejo onde residem.

O ambiente desempenha um papel preponderante na proposta da narrativa. A paisagem bucólica e campestre confere um ar nostálgico, romântico e pacífico, um grande contraste do clima caótico e opressivo de metrópoles. Em uma sociedade recém saída da Ditadura Militar, convalescendo suas cicatrizes, os jovens protagonistas ilustram a primeira geração que tem o privilégio de desfrutar os principais anos de suas vidas em democracia.

E assim, o quinteto nos conduz perante esse universo que parece onírico, desconhecido da juventude atual, em uma ingenuidade cativante e invejável. Sem tecnologia, sem criminalidade, apenas diálogos e sentimentos - em todos os espectros.

Tudo isso contribui para a já mencionada abordagem pura do amor, sem interferências contemporâneas da modernização. Portanto, ainda que desempenhem figuras mais novas do que sua idade real, os atores têm todo esse auxílio paisagístico para desenvolver suas atuações, e o conseguem maravilhosamente, o que é imprescindível para nos envolver na trama, visto que é um conto de relações, sem efeitos especiais ou plot-twists mirabolantes.

A impressão que temos é de uma amizade orgânica, de longa data e destinada à perenidade, inabalável em sua essência. A química do elenco e naturalidade com que agem é imersiva, sem traços da realidade onde estamos, obviamente oposta ao cenário em tela.

Apesar de todos saírem-se bem e ganharem um justo tempo em tela para aprofundarem suas respectivas personalidades, o decorrer da película acaba por destacar dois protagonistas centrais: Bum-Sil e Soo-Ok. Traços de um sentimento mais cálido e complexo do que simples amizade residem em ambos, mas jamais exposta diretamente; o que vemos são pequenas atitudes, trejeitos e, principalmente, os olhares trocados entre D.O. e Kim Sohyun quando estão juntos.

A singeleza do romance pode irritar os imediatistas desacostumados, mas é um mérito narrativo por evitar a previsibilidade e entediamento por repetição. E aqui há a vantagem de se tratar de um filme e não um dorama serializado. Ao contrário de dramas, estendidos ao máximo e que preenchem seu tempo com muitas reviravoltas, vai-e-vens e um interminável jogo de sentimentos, o longa, com seus 113 minutos de duração, consegue transitar por um período de vida de vários seres, extrair e esmiuçar o que talvez tenha sido a erda que definiu a vida dos envolvidos, de forma lacônica e ainda assim, reflexiva, emocionante e satisfatória, sem se perder no melodrama típico do gênero.

E após as quase duas horas em que passamos no íntimo do "clube dos cinco", a sensação que temos é de prazer e regozijo, e talvez até de saudade por algo que nem passamos, pois como qualquer ficção otimista e bem-sucedida, o nosso desejo é de ter vivido o que apenas vimos intangivelmente.

Nota: 8.
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