Review: Digimon Adventure Tri - Parte 2: Determinação - Teorias e Impressões

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Digimon Tri 2: Ketsui/Determination/Determinação, dirigido por Motonaga Keitarou.
Pois bem, meus caros, quase quatro meses após a volta dos digiescolhidos originais, com "Reunion", agora temos a segunda parte desse reencontro com nossa infância: Ketsui/Determination, ou Determinação, é claro.

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Obs: Utilizarei os nomes ocidentais dos personagens. É Matt, não Yamato

Assim como na 1ª parte, Ketsui foca na interação e desenvolvimento dos personagens. Este é seu principal mérito, mas também seu maior defeito.

De início temos mais uma narração em off, desta vez falando como todos os seres, aqueles que destroem e criam, são provenientes de uma incandescência, para após criar o mundo, retornar a ela, e de plano de fundo, temos vários conhecidos nossos: Orgemon x Leomon, com o 1º contaminado pelo vírus apresentado em Saikai. E então, de relance, vemos outro rosto familiar: Ken Ichijouji.
Nova História, velhos rostos.
digimon tri 2 determinação ketsui determination ken
Vale lembrar que no começo de Reunion, são mostradas as silhuetas das crianças de Adventure Two caindo perante Alphamon, inclusive Ken. Só que agora ele está novamente com suas vestes de Imperador Digimon, lá da época em que era o vilão de AdvTwo, na primeira metade da temporada. Ele pode ser apenas um peão de quem está realmente no comando nisso. Enfim, ainda faltam 4 OVAs e qualquer especulação seria equivocada. Não podemos nem dizer onde o Alphamon e Imperialdramon se encaixam no todo. Provável que também sejam apenas meios do responsável por isso para atingir seus meios, afinal, estão entre os monstros digitais mais poderosos.

Após o prelúdio, voltamos para a realidade de Tai e cia, num capítulo totalmente focado no dia-a-dia e interação entre a turma, novamente sem Joe. Eu não tenho nada contra isso, pois mesmo sendo um shounen, desenvolvimento é necessário, e não dá pra ficar 4 OVAs apenas mostrando batalhas, mas o problema é a forma inerte que foram dadas essas interações. 

1º e 3º episódios são todo slice of life, e penso que seria mais adequado se ambos tivessem sido encaixados em um só, com a mesma finalidade, deixando os outros 3 para desenvolvimento. Isso seria cabível, pois pare para pensar(quantos PÊS), o que realmente acontece de relevante durante o festival e a casa de banho? Eles servem, principalmente o primeiro, para introduzir e  nos familiarizar de vez com Meiko "Meimei" e seu Meicoomon, uma personagem que possui um bom carisma e é facilmente aceitável, mas com um porém...
Mimi e Meimei.
Um dos motivos que nos levou a ansiar tanto por Tri, seria a chance de rever essas crianças que podem ser considerados nossos amigos, e Meimei recebeu mais destaque em tela que todos eles. Acrescentar uma nova personagem é benéfico sim para a trama, e Meiko é uma garota legal, mas poderia haver um balanceamento maior de tela, ao menos após o episódio dois, onde ela entra de vez no grupo. Essa introdução pode funcionar melhor quando Tri estiver completo e passível de maratona, com sua história completa, mas nessas doses intermitentes, deixa a sensação de frustração por pouco termos visto da turma original, com exceção, é claro, de Mimi, responsável pela transição e transformação de Meiko.

Kari, Izzy, T.K e Sora não fazem praticamente nada na OVA inteira. Não possuem nem ao menos um momento para si. Sora e Izzy principalmente, enquanto T.K e Kari, o ship inerente da saga, são várias vezes mostrados juntos. Espero que invalidem o epílogo de 2027, pois eles combinam demais.
digimon tri tk t.k kari
Se todo mundo colaborar, temos aí um casal perfeito.
Basicamente, os Digimons são quem passam a maior parte do tempo juntos, ao servir também como alívio cômico, na sua importantíssima missão pra conseguir comida grátis. É sempre legal ver os monstrinhos e suas peripécias pelo nosso mundo.
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Os Digimons parecem muito mais unidos do que seus mestres. Detalhe pro Gabumon sem a "capa".
Tai e Matt aparecem mais, mas com o mesmo conflito não resolvido de Reunion. Tai, aliás, tem tornado-se um personagem irritante com suas restrições incabíveis, e a rixa entre ambos parece ser um artifício vazio para gerar conteúdo, pois duas vezes a turma já tentou juntá-los, inutilmente, para reatar a amizade. Tai permanece inseguro quanto a participação em batalhas e a destruição, mesmo que a instituição qual seu professor faz parte seja nitidamente ineficaz de lidar com os portais sozinha. 

No final do 4º episódio, após a luta contra Imperialdramon, eles trocam sorrisos, mas por quê? Eles insistem em um conflito, não o desenvolvem e ainda - e espero que esteja errado - o resolvem assim. Não é sutil, é vago. 
matt tai
Reparem no pilar entre os dois, para ressaltar como estão separados(boa, diretor).
No pôster de Determination, vemos Imperialdramon contra as formas extremas de Palmon e Gomamon, Rosemon e Vikemon, respectivamente, além de Mimi e Joe, o que dá a entender que os dois seriam o foco da OVA, o que é verdade, mas apenas no final de 2º e 4º episódios, e é justamente quando centrado nos dois, que o anime fica bom.

Joe, que até então pouco havia aparecido devido ao seu estudo, serve para o roteiro abordar um conflito interno muito interessante, o que diminui ainda mais a tolice de Tai. Qualquer fã já deveria estar irritado com sua aparente indiferença, dedicado de forma integral aos estudos. Para nós, brasileiros, isso pode parecer exagero, e realmente é, mas deve-se colocar no contexto japonês, muito mais rígido que o nosso, onde a pressão por sucesso é enorme, o que leva a tantos problemas peculiares do país, como os Hikikomoris, o Karoshi e os alarmantes índices de suicídio. É demais? é. Mas é através de Joe que o anime discute isso, já que Joe relegou e negligenciou os companheiros de forma egoísta e, segundo ele mesmo, covarde, para então, em uma situação extrema, ter um choque de realidade. O Digimon original possuía uma trama previsível e traços comuns, seu diferencial era justamente no carisma e versatilidade dos personagens, além de sua complexidade e maturidade dos temas debatidos em meio a ação.

Em seu diálogo com Mimi, Joe revela estar cônscio de sua condição covarde e como não consegue mudar. Pode parecer absurdo, mas é real. Não sei a idade de vocês, leitores, imagino que por Digimon ser um tema tão agregador e abrangente, sejam das mais variadas idades, e os mais novos, talvez, com menos experiência de vida, não entendam a pertinência do conflito que Joe sente consigo mesmo. Todos nós, uma hora ou outra, passamos por questões em que ambas respostas trarão algum dano, em que o certo e o coerente se misturam e a dúvida começa a nos atormentar cruelmente. É por isso que Joe passa. Focar em seu amigo, uma reminiscência de sua infância e que nem faz parte desse mundo, ou continuar estudando em busca de um futuro, emprego e todas essas responsabilidades advindas da vida adulta. É retrato de sua maturidade.
A chuva expõe o sentimento interior de Mimi e Joe.
Mimi, em menor grau, é claro, experimenta o mesmo. Sempre confiante e impositiva, sua confiança exacerbada por vezes a cegava quanto àqueles ao seu redor, e ver alguém expor isso foi um golpe. A resolução deste problema é que ficou devendo, o que prova a irregularidade do roteiro. Ao ver a felicidade de Meiko vestida com as roupas que recomendara, ela percebe o lado "bom" de seu estilo confiante, assim como nas várias vezes em que Joe diz que é melhor ela ser egoísta do que um covarde. Ok, mas o propósito final ficou obscuro, pois ela continuou a mesma, ainda mais segura de que está sempre certa, e não de forma comedida. E mais: como os dois compartilharam de seus enfermos, seria sensato se no final, fosse Mimi quem alertasse Joe para a realidade, e não Kari, mas sigamos.

A batalha final, apenas a 2ª de toda a OVA, se considerado o laço que Togemon e Meicoomon tomaram no 2º episódio, não me empolgou. A trilha sonora e a animação estão melhores, mas muito burocráticas, muito estéticas e pouco envolventes, e ainda rolou uma duvida bisonha do diretor: nomear poderes ou não? Eu prefiro que sim, pois está na essência de Digimon e não, não é infantil, e em Reunion não houve nenhuma vez em que os monstros hablaram seus golpes, já agora, bem, em algumas cenas sim, outras não. Decidam-se. 

E ah, Meicoomon realmente tem um lado negro. Os motivos? Não sei. São mais incógnitas levantadas pela obra.
meicoomon digimon tri 2 determinação ketsui determination
A animação, aliás, deixou a desejar também. Foram muitos quadros estáticos com bocas ou mãos em movimento, olhos parados, cabelos parados. Prejudica a veracidade da história. Reunion conseguiu $1,5 milhões em bilheteria e vendeu pouco mais de 12 mil unidades de mídia física, não sei qual era a expectativa da Toei, mas a série nunca foi um grande sucesso no Japão.

Alguns prints curiosos:

personagens digimon tri 2 determinação ketsui determination
Admiro muito a cultura japonesa, mas esses banhos em conjunto são estranhos.
digimon tri 2 determinação ketsui determination digimons
Eu compraria bonequinhos disso.
digimon tri 2 determinação ketsui determination mimi
Só um pouco curta.
Como o Gomamon cozinhou isso????
digimon tri 2 determinação ketsui determination rosemon
Não curti o figurino não. Lilymon é muito mais bonita e simples.
É sempre legar rever figuras de nosso passado, mas dessa vez, Digimon frustrou com erros imaturos grandes irregularidades de roteiro, ao errar e acertar em decisões semelhantes. Digimon Tri 3: Kuhuhaku/Confession/Confissão estreia dia 24 de Setembro, ainda cercado de muitas expectativas e ainda mais respostas para dar - ou novas perguntas para acrescentar. Torço pra que melhore, os personagens - e fãs - merecem.

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