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Takeo, Yamato e Sunakawa. |
“Por que as emoções humanas, até mesmo as minhas, não
funcionam do jeito que queríamos”
120 quilos e 2 metros de altura. Essas são as medidas de
Gouda Takeo – estudante do 1º ano – protagonista de Ore Monogatari. Além do
tamanho truculento, o personagem possui um design muito distinto ao característico
em mangás, principalmente em Shoujos. Sua aparência, estatura, voz gutural e caminhar
desajeitado passam a impressão de se tratar de alguém violento e grosso, mas
muito pelo contrário, Takeo é sensível, altruísta, solícito e um verdadeiro
romântico.
Seu melhor amigo, Makoto Sunakawa, o “Suna”, mantém um estilo mais idealizado dos shoujos: misterioso, calmo, inteligente,o
cabelo de tamanho médio e o porte físico magro. Apesar dessas características de galã,
possui qualidades morais introspectivas, benevolentes e de respeito para com todos, principalmente com Takeo. Durante toda sua
vida, Suna foi sempre desejado pelas garotas, inclusive as que Takeo gostava,
mas sem jamais receber o sentimento de forma recíproca, o que aumentava sua
indignação quando o amigo as recusava, ano pós ano.
Inicialmente interpretada como atitude arrogante e de
indiferença, suas escolhas só comprovam a personalidade nobre e de lealdade de
Makoto. Esses pequenos traços são algumas das diferenças de Ore Monogatari
perante outros shoujos mainstream como Kimi Ni Todoke e Aoharaido: a quebra do
estereótipo, tão tradicional no gênero.
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Suna serve como conselheiro do atrapalhado Gouda, formando uma bela e honesta amizade. |
A personagem feminina principal é Yamato Rinko, que após ser
salva de molestamento em um metrô por Gouda, começa a fazer bolos como desculpa
para encontrar o rapaz – mas será que ela se interessa por Takeo ou Suna? Como
sempre ocorreu, Takeo assume, ingenuamente, que a garota se interessa por seu
amigo, e mesmo estando apaixonado por ela, começa a tentar juntar os dois. Pode
parecer forçado, mas é uma ideologia comum nas histórias japonesas, se
satisfazer com a felicidade daquele a quem amamos. Outra prova da personalidade
inocente e benfeitora do protagonista.
Só que para sua surpresa, através de uma jogada inteligente
de
Suna,
Rinko acaba confessando seu amor e paixão por
Takeo, e é aí que o
romance começa, já no 3º episódio. Mesmo se assumindo como namorados,
sua atitude para com o outro é tímida e recatada, muito diferente da noção
ocidental para a palavra. A relação do dois vai se desenvolvendo ao longos dos
24 episódios da série, muito lenta e organicamente – lenta mesmo, simples atos como entrelaçar mãos e chamar pelo 1º nome são motivos de nervosismo.
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O casal é realmente envergonhado. |
E aí temos outro diferencial da obra de Kazune Kawahara. O relacionamento,
teoricamente, já se inicia cedo na obra, mesmo que de forma mínima, ao
contrário de muitos mangás que discorrem de dezenas de capítulos entre indecisões
e flertes. Em Monogatari, Yamato e Gouda se amam e sabem disso, apesar de todas as duvidas inerentes quando há esse tipo de romance.
A partir daí, o casal continua a se encontrar e descobrir mais um sobre o outro. O anime é, de forma geral, muito otimista. Alguns
empecilhos naturalmente causados por relacionamentos são mostrados, como
quando Rinko apresenta seu namorado a suas amigas, que o tratam com o
preconceito habitual julgando por sua aparência. Muitas são as duvidas que
nutrem sobre a integridade da paixão que sentem um pelo outro, grande parte devido a timidez que sustentam. Mesmo após meses do início do namoro, os dois ainda sentem
dificuldade para expor a complexidade de seus sentimentos, algo salientado
pelos próprios personagens, através de seus pensamentos, sempre ilustrados em
tela. Toda essa introspecção gera duvidas entre ambos. E se ele(a) se apaixonar
por outro(a) alguém?! Algo que evidencia isso é maneira com a qual se comunicam
via celular: por áudio, são sucintos e discretos, para talvez segundos após a
ligação, mandar mensagens mais amorosas, via sms e não no calor da voz. O
espectador, que tem acesso a seus pensamentos, sabe que o amor entre ambos é
real, e que jamais demonstram algo latente por outra pessoa, mas a duvida existe entre os personagens,
que não exteriorizam seu afeto por um bom tempo.
Primeiro com Rinko, depois com Takeo, os dois sofrem as
duvidas e tormentos que essa falta de intimidade provoca. Quando essa insegurança ocorre com Gouda, aliás, uma nova faceta do personagem é revelada, algo
surpreendente até mesmo para Suna, seu amigo de anos: a face de alguém inseguro e
melancólico, que parece se conformar com o fato de não se achar bom o suficiente
para sua amada.
“Por vezes, amar nos
trás as lágrimas, mesmo assim, não tem jeito, amar é uma coisa boa”.
No ápice de suas reflexões, essa é uma frase entoada pelo
protagonista. Uma sentença verdadeira e relevante. O amor pode trazer muitas
duvidas, muitas dores e por que não, “paranoias”, mas no final, o sentimento
enebriante que nos traz é superior a todas as intempéries.
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Gouda é um dos personagens mais engraçados, queridos e carismáticos que já tive o prazer de assistir. |
E no final, por mais brega e cafona que seja, Ore Monogatari
pode ser resumido numa grande história de amor. Mas não o amor em seu conceito
limitado, e sim da forma mais ampla possível. O amor da amizade entre Suna e
Gouda, que sempre se mantiveram leais e
dispostos um pelo outro. O amor entre Rinko e Takeo, que enfrentaram seus
anseios para finalmente demonstrarem a amplitude de seus sentimentos. O amor da
irmã de Suna e de Saiju por Gouda, ao respeitarem o que sentia por Yamato,
superando o seu próprio desejo.
A obra possui seus defeitos: o relacionamento pode soar
utópico demais. O desenvolvimento de Rinko é muitas vezes superficial, sendo
que em boa parte do anime, apesar da mesma ser cativante, pouco sabíamos sobre
ela, sendo apresentada apenas como uma confeiteira alegre, retraída e
apaixonada. Porém, todas suas qualidades acabam tornando esses fatores quase
irrelevantes. Os personagens são apaixonantes, a dublagem é excelente(a de
Takeo é certamente uma das melhores que já vi, expõe bem sua ingenuidade e
paixão, utilizando de um timbre forte e muito, muito engraçado, aliás, o
humor é um dos destaques da adaptação). A animação é pouco exigente, mas
eficiente mesmo assim, como a trilha sonora, muito discreta.
Isso é Ore Monogatari, uma série tão viciante quanto o coração
de seu protagonista. Recomodadíssimo.
SUKI DA!
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Notas:
- Dia 31 de Outubro(Halloween) será lançado um
Live Action da história nos cinemas nipônicos. Confira o
trailer.
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